Lúcio Lampreia
Partner unexpected
A maior parte dos líderes estarão habituados a gerir as crises na sala de administração, reservando a informação crítica a este espaço e poupando os colaboradores à ansiedade e à responsabilidade da decisão.
A maior parte das empresas está a tentar construir uma cultura de autonomia e participação, mas é nos momentos difíceis que os valores são postos à prova. E este é um desses momentos.
A maior parte dos negócios proclama um propósito maior do que a geração de lucro, mas agora há um momento de verdade, que vai testar a autenticidade da comunicação.
Por esta altura uma boa parte das equipas de board, está pela primeira vez perante uma crise que não se pode gerir dentro da sala de administração. A crise, está visível para todos, dentro e fora da organização, e a forma como lidarem com a dimensão humana, económica e social desta crise, vai dizer mais sobre liderança, cultura e propósito do que qualquer iniciativa de comunicação interna ou externa.
Olhamos para as empresas mais revolucionárias e progressistas em tempos de prosperidade. Falamos até à exaustão de inovar, experimentar e pensar fora da caixa, mas será que se pode ser inovador e disruptivo na gestão da crise?
Obviamente não há receitas, muito menos para uma situação nova e súbita como esta pandemia, mas decidimos partilhar aqui algumas histórias de empresas que, em momentos de crise, fizeram “o caminho menos percorrido”.
Se esta partilha inspirar alguns dos nossos líderes empresarias e se com isso se salvarem alguns empregos e se reforçarem alguns valores maiores, então já valeu a pena.
Caso 1:
Barry -Wehmiller (USA) na crise financeira 2007-2009
A americana Barry-wehmiller, uma empresa industrial com 12.000 colaboradores tinha vindo a trabalhar arduamente na criação de uma cultura diferenciadora em que um dos princípios era “cuidar dos colaboradores como da família”, mas foi em Fevereiro de 2008 que estes princípios foram postos à prova pela primeira vez.
Quando as encomendas baixaram drasticamente o lay-off parecia a única saída possível, (tal como tinha sido em crises anteriores) mas o CEO Bob Chapment sabia que isso destruiria a credibilidade da sua visão: uma empresa que se preocupa genuinamente com as pessoas e onde as pessoas sentem orgulho de trabalhar.
Contra a opinião de todos os membros do board, optou por um programa de “sacrifício partilhado”. Seguindo o princípio de que a empresa deveria lidar com a situação como uma família. Não existiram lay offs mas todos os colaboradores, independentemente da posição ou função tiveram, 4 semanas de licença sem vencimento num momento escolhidos pelos próprios. Para além desta medida, Chapman reduziu o seu salário, eliminou os prémios de gestão, suspendeu as contribuições de reforma e reduziu as despesas em viagens. Os sindicatos apoiaram o plano, os colaboradores desenvolveram iniciativas para se apoiarem mutuamente neste período difícil (ex. mercado de trocas) e a BW atravessou a crise sem perder ninguém. Fazendo as pessoas sentirem-se seguras e protegidas durante a crise, a empresa criou uma moral extraordinária que a levou a atingir os melhores resultados de sempre em 2010.
Mais histórias em breve.
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