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Mosquitos e Tubarões

23 Fevereiro 2015

Parece haver algo de profundamente errado nos nossos medos. A infografia sobre os animais mais mortíferos para a espécie humana, publicada no blog de Bill Gates gatesnotes, expõe a imprecisão do medo enquanto mecanismo de proteção. A questão está em saber porque é que não reagimos à presença de um mosquito ou de um caracol do mar pelo menos com o mesmo nível de alerta com que reagiríamos a um encontro com um tigre dente de sabre ou com o tubarão branco?

Se olharmos para o medo enquanto elemento sinalizador de perigo, o seu funcionamento parece tão confuso que um grupo de pessoas sentados numa audiência ou um exame académico podem receber a mesma resposta fisiológica do que um encontro inesperado com um leão numa savana repleta de mosquitos.

A jovem escritora americana Karen T. Walker diz que os nossos medos funcionam como histórias. Narrativas involuntárias que contamos a nós próprios sobre o que pode acontecer. Nesse sentido são como a ficção: criam personagens, enredos, imagens, suspense.

Em 1820 o baleeiro Essex naufragou com 20 homens a bordo, a 5000 milhas da costa do Chile depois de ter sido atacado por um cachalote. Neste trágico incidente que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick , a tripulação, à deriva no pacífico agarrada aos restos mortais da embarcação viu-se confrontada com uma decisão: tentar chegar às ilhas mais próximas no Taiti, conhecidas pelas horríveis histórias de canibais, tentar chegar ao Havai enfrentando as enormes tempestades da zona ou tentar alcançar a Costa sul americana, a mais distante de todas as possibilidades, o que significava seguramente ficar sem água e sem comida. Estes homens foram forçados a escolher entre o medo de ser devorado por canibais, o medo de ser engolido por uma tempestade e o medo de definhar de sede e fome.

Após várias horas de deliberação, os homens resolveram ignorar as ilhas mais próximas e seguir pelo caminho mais longo. Depois de meses à deriva no mar, 8 marinheiros foram resgatados com vida na costa sul americana. Contaram que para sobreviver tiveram que recorrer ao canibalismo.

Porque é que estes homens temeram mais os canibais do que a fome?
Os medos são extraordinários atos de imaginação que projetam o futuro, e os seres humanos são a única espécie capaz de projetar o futuro desta forma. Os canibais das ilhas Marquesas, as tempestades do Havai, o tigre de dente de sabre e o cachalote são imagens mais sensacionalistas, mais fortes, mais vivas, mais “capturadoras da imaginação” do que a fome ou o mosquito da malária..
Se pensarmos em nós como autores e leitores destas histórias, a forma como lemos os nossos medos pode ter um impacto enorme na nossa vida .

Talvez a nossa imaginação seja altamente poderosa a criar imagens de fracasso altamente aterradoras quando estamos perante uma audiência ou a construir histórias catastróficas sobre as consequências de falharmos num exame.

Às vezes os nossos medos tornam-se realidade. E isso é extraordinário . Às vezes conseguem prever o futuro. Mas é impossível prepararmo-nos para todos os medos que a nossa imaginação pode produzir. A questão é como podemos aprender a distinguir entre os medos que vale a pena ouvir e os outros?
Os medos mais subtis parecem ser os mais verdadeiros. Não saber reconhecer os nossos medos mais subtis, leva a atitudes de negação, defensividade, ansiedade social, pessimismo excessivo, optimismo excessivo e dependência ou independência maníaca, que são na maior parte das vezes os verdadeiros obstáculos que nos impedem de avançar na nossa vida pessoal e profissional.

É muito importante aprendermos a distinguir os nossos tubarões e os nossos mosquitos. Quais são os seus?

Sandra Pires

partner da unexpected

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About the Author

Sandra Pires

Sandra is partner of unexpected since 2012 and she is mainly the curator for unexpected transformational programs and collaborates with The Mind Gym, MPI and IDG group for international projects. After 10 years working in consultancy projects across Portugal in organizational development, instructional design, training, b-learning, experiential learning and coaching, she decided to try “the other side” and accepted a position as HR manager of an automotive Iberian Company. During 6 years she was responsible for HR policies and programs in articulation with business strategy, in order to promote Talent Attraction, Development and Retention to the commercial network in Portugal, Spain and Angola. After this “double side” experience, Sandra felt she was ready to return to consultancy (“the best possible sector for compulsive learners”) and run her own company. With an Academic background in Organizational Psychology, Sandra has made post graduated studies in Emotional Intelligence, Stress and Well Being, and Cognitive-Behavioural intervention models. She is frequently invited to participate in MBA programs as invited teacher.

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